Entrevistas

Carreira internacional no design: entrevista com Victor Weiss

Foi observando os irmãos utilizarem softwares de edição que o designer e empreendedor Victor Weiss despertou o interesse pela área. A partir daí, ele fez um curso de design aos 14 anos que foi o start para o que, no futuro, tornou sua profissão.

Natural de Campinas/SP e residente de Blumenau/SC, o designer de 26 anos conta que foi educado pelos pais em casa (homeschooling) e hoje se destaca no cenário nacional e internacional com seus projetos de identidade visual, UI/UX e branding.

Recentemente, ele recebeu três A’ Design Award na edição de 2023, um dos prêmios mais prestigiados do mundo do design, como também já foi reconhecido pelo Behance e conta com milhares de avaliações e seguidores.

Victor durante a premiação (Foto: Arquivo pessoal).

Atualmente, além de atuar no estúdio que carrega seu nome, Victor é COO e co-fundador da Yunicorn, uma startup que oferece serviços de branding, programação, marketing e design para clientes de diversos países. E é co-fundador da Blink, uma empresa de design por assinatura com atuação internacional.

Ele também participa de workshops, palestras e eventos relacionados ao design, compartilhando sua experiência e conhecimento com outros profissionais e estudantes da área.

Nesta entrevista, ele nos conta um pouco sobre sua trajetória, desafios, inspirações e planos para o futuro. Confira:

Como você iniciou a carreira profissional no design e como surgiu o interesse pela área?
Vindo de família grande (19 irmãos), muitos estavam envolvidos em áreas criativas lá no inicio do uso de programas digitais. Lembro de ver meus irmãos fazendo manipulações no Photoshop de 2003, ou animações no Flash, artes no Inkscape. Sempre achei incrível, e eu me aventurava nestes programas desde moleque.

Aos 14 anos fiz um curso de design gráfico na Microway. Foi um curso bem básico, mas serviu para me despertar mais interesse na área (um salve ao meu professor Douglas).

Por quanto tempo você atuou exclusivamente com clientes brasileiros até começar a ingressar no mercado internacional?
Trabalhei como designer em uma empresa dos 16 aos 18. Mas comecei a fazer freelas com 15 anos. Ainda atendo alguns clientes nacionais de minha cidade de preferência. É muito bom ver o design tomar vida e poder passar na frente de um hotel, de uma loja de vinhos, de um restaurante e ver a identidade que fizemos com tanto carinho ali. Comecei a atender o mercado internacional em 2017.

Projeto feito para hotel de Blumenau/SC (Imagem: Behance VW).
(Imagem: Behance VW).

A partir de que momento você percebeu que seria mesmo possível e seria um caminho trilhar uma carreira internacional?
Quando recebi meu primeiro selo no Behance em 2018 (Projeto RB5 vinícola). Neste momento recebi vários pedidos de orçamento e parcerias. Por ser fluente em inglês, tive muita facilidade de atender.

(Foto: Arquivo pessoal).

A sua atuação até então era com um studio próprio. Como surgiu a ideia de ter um próprio studio de design e não trabalhar em uma empresa?
Acho que eu nunca soube de certeza, é sempre um risco. E nem sempre dá certo. Acho que foi uma combinação de sorte, com muitas noites viradas e muita vontade de conseguir. Minha esposa engravidar no primeiro mês em que nos mudamos juntos para uma nova cidade longe de nossas famílias com certeza serviu de motivação para fazer as coisas acontecer (risos).

Quais foram os principais passos e até sacrifícios que você teve que fazer para que as oportunidades fora do Brasil se concretizassem?
Não associaria os sacrifícios e esforços necessariamente às oportunidades fora do Brasil. Mas, sim, a cada projeto que consegui fechar, atender e entregar. Eu iniciei de forma muito simples e humilde. Fazia logos por R$ 300, mas não apenas logos, fazia o que aparecia: design de revista, anúncios, impressos, qualquer coisa. Não tive ego. Entendi que eu estava onde estava, e que para chegar onde queria chegar, tinha um longo caminho a ser trilhado, e que tinha que ser aos poucos.

Victor no início da carreira (Foto: Arquivo pessoal).

Eu sabia onde queria chegar, e entendia que ia ser um processo lento e árduo. Desde um projeto de 3 meses para um jogo de cartas, até uma revista que me tomou 2 semanas, sendo que cheguei a ficar 3 noites sem dormir e alucinar (não recomendo a ninguém isso), fiz vários projetos onde aceitei porque precisava, mas não dava vontade de fazer, pois ainda não era bom suficiente e tive que devolver o dinheiro.

Eu primeiro fechava, e depois aprendia como fazer. Me joguei de cabeça no design. Eu me conectei ao design em todas formas que encontrei, seja grupos do Facebook (na época), canais do Youtube, grupos do Whatsapp depois. Livros, podcasts, documentários. Qualquer conteúdo que eu encontrava eu absorvia, sempre enquanto eu trabalhava.

Fiz muitos sacrifícios que não vou romantizar aqui, então não recomendo que todos façam o que eu fiz. Até por que muito foi por desespero da situação que eu me encontrava.

Victor e a família no início da carreira (Foto: Arquivo pessoal).

Imagina você não ter nem o ensino médio brasileiro, porque foi educado em casa, ter uma esposa grávida, estar em uma cidade onde praticamente não conhece ninguém e não ter um emprego ou garantia. Tomar 4 energéticos para ficar acordado, fumar cigarro para acalmar os nervos, fechar mais projetos do que eu poderia atender, pois não conseguia cobrar muito (por que de fato eu era ruim – risos), depois lidar com a pressão de prazos malucos, etc.

Não me fez bem, e não recomendo a ninguém, entretanto, a minha história foi assim, e estou aqui para contar, então não vou mentir. Fiz muitos sacrifícios que custaram minha saúde mental e física. Me trouxe aonde estou hoje? Sim. Me arrependo? Não. Mas não recomendo a ninguém. É importante encontrar um equilíbrio entre empreender e ter uma vida.

Quais os prós e contras que você vê em ter seu próprio studio e ser autonômo no segmento do design?
Interessante. Vou cuidar nessa resposta para não incentivar demais a minha equipe para saírem da empresa (risos). Todos os lados tem prós e contras.

Eu acho que vai mais de que tipo de pessoa você é e o que você quer para si mesmo. Eu já fui muito feliz com uma vida muito mais simples, um apartamento de 60 metros quadrados, com minha esposa, bebê, e 3 cachorros. Comíamos miojo e (aquele steak de frango maravilhoso) ou ovo (continua sendo uma de minha refeições preferidas). Mas, eu resolvi construir algo maior, não apenas para mim, mas para ajudar os outros em volta de mim e, para isso, empreender foi o caminho.

Na minha vida, ser empresário foi muito mais difícil do que ser funcionário. Não posso falar por todos, é claro. Estive nas duas posições, e tem algo diferente de sair do trabalho às 18h e ir para casa, relaxar totalmente e saber que só precisa trabalhar no dia seguinte às 8h (risos).

Como empresário, o trabalho está em todo lugar, no celular, em casa, no notebook, ele te persegue e você não tem muita paz. Sendo um funcionário, pelo menos em uma empresa boa, você pode ter mais estabilidade mental e física. Como empresário (depende é claro do momento) mas tende a envolver muito mais pressão e instabilidade. Pelo menos nos primeiros anos. Tem muitos prós e contras. Mas não existe certo e errado. Cada um tem que procurar o que lhe faz feliz.

(Foto: Arquivo pessoal).

Agora você está em um novo projeto chamado Design with Blink e está como COO e co-founder de uma startup, a Yunicorn. Pode nos contar como foi essa transição do studio próprio para uma sociedade? E explicar como tem sido este novo momento na carreira?
Essa história poderia preencher um podcast de 4 horas, mas vou tentar resumir. Recebi um pedido de orçamento no Behance, após meu primeiro selo, para fazer uma marca para uma agência alemã chamada TPA. Fechei e fiz a marca deles na época. Posteriormente, segui atendendo eles em outros projetos em parceria com meu estúdio por muito anos, e chegamos a fazer workshops de branding na África do Sul, Dubai, Los Angeles, onde tive a oportunidade de palestrar e conhecer muitas pessoas boas.

Um dia, um dos sócios saiu e fundou a Yunicorn, e eu estive com ele desde o inicio. Hoje sou COO e também co-fundador da Yunicorn Studio, um guarda-chuva de empresas, e oferece serviços de branding, programação, marketing, e design.

A Blink* é uma nova empresa que iniciamos há cerca de 3 meses. É uma empresa de design por assinatura com atuação internacional. Eu estou juntando alguns dos melhores designers que conheço que eram também amigos de muitos anos nessa nova empreitada, e está dando muito certo.

Entre a Yunicorn, Blink*, Lemonads, e muito em breve a Anymotion, temos uma equipe maravilhosa de designers que só cresce: Yago Barbosa, Evandro Caetano, Cesar Imura, Pedro Renan, Vitor Linhares, Felipe Polo, Mateus Bredoff, Paulo Rogério, Klayton Fadul, Luiz Arthuso, Lucas Coradi e Arthur Weiss. Não poderia deixar de citar também a equipe excelente da Yunicorn, com profissionais de diferentes áreas: Matt Shuldt, Samuel Fleck, Viktoria Graf, Philip Krawath, Julian Budach, Amira Abdelmalek, Lisa Schaden, Philip Sigloch, Samuel Lambke. Eu tenho muito orgulho dessa galera.

Como foi receber 3 A’ Design Award na edição deste ano? E qual a importância deste prêmio para a carreira?
Foi muito bom. Os meus clientes valorizam muito este tipo de coisa, gostam de poder dizer que trabalham com a gente e se orgulham. Para mim, é isso que importa. Eles ficam mais orgulhosos do que a gente (risos).

(Foto: Arquivo pessoal).

Quais dicas você daria para quem busca este objetivo – de ter carreira internacional?
1: Aprenda inglês. Não adianta só saber ler e escrever, tem que conseguir falar, pois os clientes esperam te conhecer em vídeo chamada (Não é obrigatório, mas é o próximo nível).

2: Cresça no Behance e Instagram. Além de, é claro, ter um bom site. Evolua seu portfólio ao máximo, e procure fazer parcerias com agências internacionais que irão lhe dar estabilidade. Pois, mesmo sem fechar seus próprios projetos, eles poderão te enviar 5/10 projetos por mês, e você não irá gastar com marketing.

Qual (is) são suas inspirações atuais no design e área criativa atualmente?
Minha inspirações são minha equipe e meus amigos. Não vou listar nomes por que são muitos e não quero deixar ninguém de fora, mas vocês sabem quem vocês são (se quiserem saber também é só ver quem eu sigo no Behance).

Por fim, tem novos projetos vindo aí? Pode nos contar um pouco?
Tem muita coisa incrível vindo por ai. A Blink* está estourando, e a próxima fase é começarmos a apresentar as coisas incríveis que temos feito. Seja marcas, sites, anúncios. Tem muita coisa boa! A Yunicorn também está em uma expansão gigantesca, e poderão conhecer alguns projetos novos no Behance da Yunicorn Stúdio em breve. Dífícil é achar tempo de postar (por que sou muito chato – risos), mas uma hora vai sair.

Confira alguns dos projetos preferidos de Victor como designer:

Marca própria – Victor Weiss


Identidade visual Botic Restaurant


Identidade visual Gamma Bank

Agradecemos a disponibilidade do Victor para conceder essa entrevista que, com certeza, irá inspirar mais profissionais da área criativa. Desejamos sucesso a ele na carreira.

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