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Designer, você tem um papel social!

Calça Levis 522 Jeans feita com rede de pesca (Econyl) da Aquafil (Foto: Razões para Acreditar).

Ezio Manzini, famoso designer italiano, levanta uma importante questão:

Qual seria o papel do designer na atual transição para uma sociedade sustentável?

Ele define o papel do designer, em um contexto global, afirmando que o seu papel é construir cenários para estimular a discussão  e a inovação, ajudando na regeneração dos aspectos sociais e ambientais da sociedade. Ele acrescenta que o design tem um papel formativo, educativo que ajudará à sociedade a ajustar-se a uma nova realidade socioambiental.

Mas como seria então esse papel formativo?

Esse papel formativo seria no sentido de educar o usuário a um novo estilo de vida  para uma futura sociedade sustentável por meio do design e consumo de produtos, serviços, experiências e sistemas coerentes com essa nova qualidade de vida.

Se pudéssemos visualizar uma ponte entre a sociedade atual e aquela que queremos para o futuro, uma sociedade sustentável, poderíamos dizer que ainda estamos no começo da ponte. O design é a disciplina que vai fazer a ligação, a ponte entre o sistema antigo e o sistema novo de produção e consumo e descarte.

Esse papel “educativo” aumenta mais ainda a responsabilidade do designer, já que somos construtores de realidades materiais e “ditamos” as regras de como a sociedade deve consumir, construindo e/ou destruindo estilos de vida.

Acontecerá um novo processo de aprendizagem inevitável se queremos com sucesso atingir essa sociedade mais sustentável, portanto devemos aprender a produzir, consumir e descartar de uma maneira inovadora. Um processo gradual de mudança na sociedade em que essa aprendizagem será em parte pela prática do consumo. É essencial que o atual processo de consumo seja reaprendido. Seria um processo da sociedade se reajustando às novas atitudes, valores e crenças relacionadas ao meio ambiente.

Sustentabilidade para viagem

Porém, na corrida para alcançar e praticar consumo sustentável, não deve ser esquecido o atual consumo não sustentável, que deve ser estudado e entendido para um posterior desenvolvimento e melhora do consumo sustentável. A ênfase no consumo acontece porque Manzini acredita que o aspecto mais difícil para atingir uma sociedade sustentável é mudar a atitude do consumidor, já que essa atitude é um estilo de vida individual produto de experiências, opiniões pessoais e abarca a população de bilhões de pessoas no mundo.

Por outro lado, mudanças em aspectos de design e tecnologia são mais fáceis, pois, envolvem objetivos e resultados factuais, dentro de um ambiente industrial de mudança e inovação regido por normas meio ambientais, mas mencionar consumo levanta outra questão:

A sustentabilidade deve ser consumida para ser aprendida?

E, nesse caso, quem não tem poder econômico para consumir como aprende essa sustentabilidade? Consumi-la seria comprar a experiência de um produto, serviço ou sistema sustentável.

Mais uma vez, apenas os que podem consumir terão direito a uma sociedade sustentável, como acontece hoje em dia?

Há um risco real de ter uma elite ecológica mundial, mas não exercer a sustentabilidade iria contra a essência dela mesma, uma sociedade mais justa e igualitária para todos.

A situação dos refugiados na Europa é agora preocupação mundial, como tornar essas grandes massas humanas, mais conscientes da sustentabilidade quando eles têm uma serie de carências que devem ser atendidos primeiro como moradia, educação, saúde e alimentação?

Design e consumo

Podemos definir consumo como a nossa relação com a cultura e entorno material. O que está claro é que a nossa relação com a cultura material é doentia e, esse caminho para a sustentabilidade seria uma maneira de corrigir essa relação. A questão “Por que consumimos o que consumimos?” é, hoje, um dos temas mais importantes no campo de estudo do comportamento do consumidor. Para isso Ezio Manzini acredita que três elementos devem mudar a estrutura social, o comportamento do consumidor e a aceitação cultural.

Podemos citar também a ideologia, que pode ser definida como um conjunto de crenças e valores, cada pessoa teria a sua ideologia própria formando um padrão de consumo individual. Portanto, a estrutura social, sofrendo pressões de responsabilidade social e de cidadania, além de preocupações ambientais, sociais e econômicas, conduziria à uma mudança de ideologia em que a nova ideia de sustentabilidade começaria a fazer parte desse conjunto de crenças e valores, e então recriando um novo padrão de consumo mais amigável com o meio ambiente e preocupado com questões sociais e econômicas.

A aceitação cultural também é importante, o consumo de produtos sustentáveis ou ecológicos deve trazer ao consumidor um status cultural, de diferenciação como começa acontecer hoje. Ou como dizem outros especialistas “Sustentabilidade deve ser sexy para ser consumida”.

A sociedade sustentável acontecerá um dia, e esperemos que seja para todos e não apenas para uma elite ou classe media global,  nós designers temos um papel profissional e ético vital nessa transição, configurando um novo mundo acessível para todos e mudando padrões de consumo e estilos de vida para que sejam coerentes com essa nova realidade. Afinal, bom design é de todos e para todos!

Acompanhe o POLIMI DESIS Lab de Ezio Manzini no site oficial do grupo.

Junte-se ao maior grupo global de design sustentável neste link.

Marcio Dupont é designer de produto e especialista em  sustentabilidade e inovação na cadeia de valor.

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As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade do autor

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