Assim que soube da possibilidade de desenvolver um produto da área que trabalha e ainda concorrer a um prêmio, Alejandra Flechas não pensou duas vezes. Aos 28 anos, a colombiana que mora em São Paulo e trabalha na na Comercial Chalex, empresa sediada na China que comercializa bolsas, mochilas e acessórios, desenvolveu um projeto que representou o Brasil no prêmio Corel Design Contest 2015.
Intitulado de “Bananas”, a coleção traz um kit de acessórios personalizado composto por mochila, capa para celular e nécessaire com padronagem coordenada. Alejandra, que é formada em design industrial pela Universidad Nacional de Colombia, conversou com o Design Conceitual sobre o processo, o atual mercado e ainda a richa entre Adobe e Corel.
Eu vi a convocatória no site da Corel, tinham uma categoria de têxtil/fashion, e como no meu trabalho normalmente uso o programa, então decidi criar uma proposta de mochilas exclusiva para o concurso. Eu queria criar uma estampa juvenil com uma espécie de personagens meio engraçados, então fiz um desenho no papel das bananas. Daí, comecei o processo de vetorização diretamente no programa.
DCon: Quais as maiores dificuldades no desenvolvimento do projeto?
Embora pareça engraçado, quase que não consegui carregar o arquivo da imagem , na verdade nem consegui saber porque dava o erro, estava no formato e o tamanho certo. Por sorte eu consegui mandar em .png e deu tudo certo.
DCon: Qual foi a sua reação ao saber que havia sido um dos três vencedores do prêmio?
Eu não esperava ser uma das vencedoras, eu mandei a proposta porque é um trabalho que faço há muito tempo, e achei bacana poder compartilhar diretamente com a Corel, mas fiquei muito contente com a notícia, fiquei surpresa, aliás eu queria a nova versão do programa, então foi muito legal para mim.
DCon: Como foi a repercussão após você vencer o concurso? Tem te trazido mais oportunidades?
Na verdade a repercussão foi mais para mim, é bom saber que você fez um bom trabalho, e que os mesmos criadores do programa o acham bom. Acho que tampouco tenho explorado muito o fato de ser uma das vencedoras, mas na verdade o uso de um programa, qualquer que seja, é um assunto que não acaba nunca, sempre vai ter que estar muito atualizado, conhecendo as ferramentas e características novas. A comunidade entre usuários é muito importante, que eu conheci só após do concurso, há muitos blogs e espaços virtuais para compartilhar dicas e observar como é possível usar certas ferramentas no seu projeto.
DCon: Por que você escolhe utilizar o Corel em meio a uma onda de ascensão da Adobe?
Minha relação com o Corel é de muitos anos atrás, pode ser um dos primeiros programas de design que eu conheci, então já estive muito familiarizada com a interface do programa e comecei a usar as novas versões disponíveis.
Obviamente, ao mesmo tempo trabalhei com os programas da Adobe, de fato eu uso o Photoshop também no me trabalho. Eu comprei a licença da Corel há alguns anos, às vezes oferecem boas promoções e eu acho que é uma excelente relação custo/benefício. Existe uma forte tendência entre os designers – especialmente os mais novos – em quase fazer do uso dos programas uma “torcida” de times ou de marcas. De um lado estão os torcedores acérrimos da Adobe, do outro da Corel, o Mac e o Pc, e assim vai.
“Mas o uso de X ou Y programa não tem nada a ver com o desempenho do designer, um programa não é mais que uma ferramenta”
Agora é obvio que o designer tem que se adaptar às condições da empresa, porque já envolve uma parte operacional do processo dentro desta. Sem dúvida continuarei usando o Corel, como prêmio recebi algumas licenças e acesso a livrarias e extensões, então tenho muito software por explorar ainda.
DCon: Como você vê o atual mercado para designers em São Paulo, local que você reside?
No segmento de fashion/têxtil, existe uma notável ameaça diante da tendência das empresas não produzirem os produtos, muitas optam por ter compradores que muitas vezes nem são designers e não têm a sensibilidade para olhar as necessidades do mercado, que acho é uma dos grandes diferenciais dos designers.
“É uma realidade que o design como disciplina ainda não é tão valorizada quanto deveria, pode ser que as mudanças das perspectivas do design no mundo (como o design thinking, design de serviços, design de experiência) tragam um pouco de consciência e seja melhor aproveitado e valorizado nas empresas”.
DCon: Quais são as áreas do design que você mais gosta e admira? Por quê?
Eu gosto das áreas de ilustração, fashion/têxtil, animação, design gráfico e fotografia. Sinto especial admiração pelo design 3D, animação e ambientes virtuais porque considero que nessa categoria não existem os limites, nem existem as leis da física, portanto as possibilidades são infinitas. Agora resulta muito interessante o que virá acontecer com a integração do real e o virtual. No caso da impressão 3D, a porta que se abriu permite também uma gama gigante de possibilidades de criação e implementação.
DCon: Quais são suas inspirações para trabalhos?
A principal inspiração para meu trabalho são os mesmos usuários, sempre que começo a desenvolver um projeto, um produto, meu foco está voltado para o usuário. Quem é essa pessoa que usará o produto, quais são as referências que ela usa, quais apelos de marca, que produtos compra, etc. Todos esses questionamentos vão ser respondidos – pelo menos de modo alegórico – através da observação.
“O trabalho de campo, de observação de usuários, tendências, mercado (…) é básico para o designer”.
Por outro lado, gosto de seguir os trabalhos de alguns designers ou marcas que são referentes para o tipo de produto que eu desenvolvo. Entre os quais estão Neri Oxman, que explora a beleza das tecnologias 3D, Jeremy Scott, que tem tantos detratores quanto seguidores, mas que sempre está quebrando os limites do ‘pop design’. Outra designer que gosto de seguir é a Paula Cademartori, ela é Ítalo Brasileira, e é uma fonte de inspiração por conta das formas e as cores que aplica nas suas criações.
DCon: Quais são seus próximos projetos?
Meus projetos essencialmente são de formação, como eu acredito que o papel do designer não se limita a dar a forma aos produtos, estou explorando teorias e conhecimentos de áreas mais administrativas e do mundo dos negócios.
Atualmente estou cursando uma especialização em gestão estratégica de Vendas no Mackenzie, e agora posso confirmar que as vendas e o design são processos totalmente complementares, e no caso do segmento fashion/têxtil, quase que deveria ser tomado como uma equipe só, que abarcaria o ciclo completo desde a idealização do produto até a pós venda, e assim o ciclo começaria de novo.
Para conhecer mais o trabalho de Alejandra, acesse o portfolio dela aqui.