Todo segmento vive uma ou várias eras de ouro. São períodos em que a procura por determinado serviço ou produto está no ápice. Esse ciclo é alimentado pela mudança do desejo de consumo da sociedade.
Analisando um pouco da história, percebemos que o cinema viveu uma era de ouro na década de 50. Vários gênios surgiram com suas obras emblemáticas, já quando se fala em televisão, precisamos ir para 50 anos À frente, e olharmos, o início dos anos 2000, marcado por vários produtos do gênero.
Agora, focando no tema desse artigo, podemos dizer que a era de ouro do desenvolvimento de aplicações mobile, ou seja, jogos e aplicativos, foi o período de 3 anos entre 2007 e 2010.
Esse advento se deu, porque a Apple lançou um percentual de faturamento generoso, mais especificamente, 70% de tudo que fosse arrecada seria destinado ao criador da aplicação, e a Apple deteria 30%.
Obviamente, empreendedores viram no mercado, ainda pouco explorado, a oportunidade de investir. E dessa experiência temos vários jogos Indie que ganharam o mercado, e aplicativos de jovens estudantes que alcançaram a fama.
O mercado de jogos profissionalizou-se, e o que antes parecia ser uma simples brincadeira, ganhou forma e uma gigantesca fatia de mercado. Para se ter uma ideia, em 2015, o lucro obtido na venda e criação de jogos passou de 1 Bilhão (G1).
Esse processo de expansão também abriu espaço para micro, pequenas empresas ou profissionais autônomos investirem seus talentos mentais e financeiros e lançarem seus produtos. Nesse artigo de 3 partes, explicarei todo o processo para construção, lançamento e divulgação de um jogo independente.
- Faça uma pesquisa de mercado, e identifique tendências:
Essa é uma dica relativa, vai depender muito do seu nível de proficiência sobre o assunto e principalmente se já possui um nome no mercado. Acredito que todos têm pretensão de venda, ao desenvolverem seus jogos, pesquisar o mercado, entender o que efetivamente o consumir está buscando, facilita esse processo.
Muitas pessoas esquecem, mas para desenvolver um jogo, também é necessária, na verdade, a construção de um plano de negócios, afinal, estamos falando de um produto que será vendido, e requer investimento. Esse por sua vez, está atrelado a custo x benefícios. Criar um plano de negócios é estabelecer suas projeções reais, e o que será necessário para alcançá-las. Se tiver dúvidas de como construir um plano de negócios, vou deixar um modelo para download.
1) Levante as possibilidades
Com os dados em mãos, é hora de começar a construir a ideia. Defina que tipo de jogo gostaria de fazer. Jogo de tabuleiro, esporte, ação, aventura e etc. É preciso definir o tipo de jogo é o passo inicial. A partir disso, você deve começar a levantar os detalhes importantes para construção: História, fluxo do jogo, botões de comando, personagens principais, conceitos da gameplay e muitos outros.
Esse é o momento de sonhar com os pés no chão. Não projete algo inovador a ponto de nunca conseguir terminar, é mais importante ter um projeto bem desenvolvido e finalizado, do que uma ideia inovadora nunca finalizada.
2.1) Crie um Script (roteiro)
Assim como um filme conta com um bom roteiro, os jogos também. Sempre que inicio a construção de um jogo gosto de preencher um script com todas as informações importantes que podem ser esquecidas, seria uma espécie de bíblia do seu jogo. Nela você vai anotar a história, jogabilidade, controles, fluxo do usuário entre outros. Vou deixar o modelo para download.
2.2) Crie algo viciante
Na criação de jogos existe um fator conhecido como replay, ou seja, a capacidade da aplicação despertar o desejo de continuar jogando frequentemente. Veja o Candy Crush, por exemplo, com uma jogabilidade simples, o jogo desperta o interesse do usuário, que consegue facilmente dedicar várias horas ao jogo.
2.3) Parecido não quer dizer igual
Se optar por uma ideia inovadora, mas surreal, não é uma boa opção, o contrário também não. Entender o mercado, e o que o consumidor mais consome, não quer dizer fazer o mesmo de sempre. Veja as jogabilidades que estão mais em alta, e produza em cima disso, lembrando sempre de usar o que tiver ao seu favor, seja uma história envolvente, construção de cenários diferentes, ou mesmo pequenas mudanças na jogabilidade.
Dê ao padrão tradicional o seu toque, dando a ideia de novidade, mas com a essência do que o usuário busca.
2.4) Construa um universo
Umas das principais mudanças que ocorrem com o tempo, é a capacidade de jogos serem constantemente atualizados, seja com novas jogabilidades, mudos, vilões, fases e muito mais. É importante na construção de um jogo, sempre ter a possibilidade da atualização. Além de necessária, a atualização funciona como estratégia de marketing. Quando o jogo começar a perder usuários, lance novidades.
2.5) Criatividade ao máximo:
Com toda a história e jogabilidade construída, podemos começar a melhor parte. Dar vida (visual) aos personagens do game.
3.1) Coerência visual
A primeira coisa que precisa fazer é definir o estilo. Muitos jogos trabalham com personagens 8 bits, como Chroma Squad, outro com modelagem 3D realista, como Horizon, e muitos com Cartoon, como Ben 10: Alien Force.
A linguagem visual escolhida deve ser aplicada nos personagens, cenários e interface do gama. É importante existe uma coerência visual. Essa constância transmite um ar mais profissional ao jogo, e facilita na construção.
3.2) Personagens Principais:
Definir a história, e os personagens principais é importantíssimo, isso porque, na hora de criar o visual deles, a trajetória descrita no script deve refletir seu visual. Se pegarmos o jogo God of War e analisarmos o visual do personagem principal Kratos, bate corretamente com toda a narrativa que é construída a personalidade do personagem.
Na construção visual do personagem, você deve usar a abusar da criatividade, incluir desde armar, expressões e movimentos que ele desenvolverá no jogo.
Abaixo alguns exemplos de expressões e movimentos que o personagem pode executar.
3.2.1) Movimento
Estamos falando de um jogo, e logicamente, seu personagem não será estáticos, é importante, definir os movimentos básicos que ele realizará, se é necessário que ele execute pulos para vencer os desafios propostos na narrativa, preveja como esse movimento vai acontecer. Nada pior do que um personagem travado, que não executa as funções corretamente.
3.3) Cenários
Os cenários podem ser tão icônicos, quando os personagens. Você conseguiria imaginar o Mário, sem as tubulações verdes que aparecem no decorrer do jogo, ou ainda, os bloquinhos marrons que constroem o cenário? Além disso, eles possibilitam uma narrativa mais imersiva na construção narrativa do jogo.
Coerência novamente aparece como palavra de ordem, se a narrativa está descrevendo um ambiente com catástrofes, guerra, água, fogo, o cenário de fundo deve exprimir isso.
3.4) Trilha sonora
Parece um tópico obvio de ser explorado, afinal, todo bom jogo conta com uma trilha sonora impecável, e um conjunto de efeitos sonoros que enriquecem momentos de conquistas, perdas e tensões.
Quando estamos falando de grandes estúdios, é fácil falarmos em desenvolver uma trilha sonora própria, com um conjunto de efeitos, e todos eles feitos sob medida. Mas como estamos construindo jogos independente, podemos utilizar galerias de feitos gratuitos, no Youtube por exemplo, muitos profissionais liberam Jingle para download completamente gratuitos e deixam suas bibliotecas de som a disposição.
Jogabilidade e Starter Kits
No script, você definiu que controles serão utilizados, e as funções que corresponde cada uma das ações executadas pelo personagem. Muitos desenvolvedores optam pelos Starter it, ou seja, jogos pré-programados ou semi prontos. São projetos que estão disponíveis para compra com funcionalidades próximas as desejadas.
Utilizar jogos semi prontos é uma estratégia muito utilizada por desenvolvedores para otimizar o tempo, isso porque, estamos falando de customização e não de programação efetivação, de uma maneira mais rude, seria uma espécie de WordPress.
Como ponto negativo, o Starter Kits pode ser comprado por qualquer pessoa, aumento a concorrência, ou seja, mais jogos com a jogabilidade próxima a sua no mercado.
Optando por essa estratégia, você deve implementar todas as possibilidades levantadas no seu script no projeto. É importantíssimo que você customize a estrutura, deixando-a mais autoral possível, pois ela será o seu diferencial. Uma arte gráfica bem elaborada poderá ser o seu diferencial.
3.5 Interface e testes
Uma interface fácil e intuitiva é importantíssima para qualquer aplicação mobile. Muitas vezes, esse quesito será a linha que delimita o sucesso e o fracasso. Se o seu jogo contará com várias fases, crie uma tela de acesso atrativa, onde o usuário poderá acessá-las livremente, toda vez que for conquistada.
Uma dica importante para o desenvolvedor é saber que nem todas as pessoas pensam como ele. Não é porque a interface parece usual e amigável para você que todos acharam, assim que terminar a construção do jogo, disponibilize para que pessoas próximas de você joguem e identifiquem possível falhar ou erro de interpretação.
Teste o game com diferentes tipos de usuários até finalmente ter um conjunto de informações e possível erros levantados. É melhor errar com pessoas próximas e antes do lançamento oficial, do que quando já estiver no mercado.
Essa é a primeira parte de três artigos sobre construção de jogos. Nos artigos seguintes falaremos sobre programação de jogos e depois, sobre lançamento e marketing.
As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade do autor