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Design: Popularização de produtos ou popularização da palavra?

(Foto: Reprodução).

Artigo enviado por Nelson Graubart, ex-integrante da ADG (Associação dos Designers Gráficos do Brasil) e empreendedor na área desde 1983

O design existe desde que o homem inventou o martelo feito de pedra, desde que a cabaça virou prato e o couro dos animais virou vestimenta protetora. Afinal, o homem faz design de acordo com suas necessidades e recursos. Bom ou mau, profissional ou amador, bonito ou feio, não importa.

Design é inevitável e está presente em todos os objetos que fazem parte de nossas vidas. Entendo o design exercido profissionalmente como um método com conceitos e técnicas para solucionar problemas. Problemas oriundos dos usuários – consumidores, tais como: costumes, comportamentos, novos hábitos ou posturas, ou vindos das indústrias como por exemplo novas tecnologias ou materiais, processos, custos, armazenamento, distribuição, e outros motivos, mas sempre o produto exercendo uma função.

Dizem que uma pergunta bem formulada garante metade da resposta. Ou seja, para se propôr um novo projeto de design, é necessário saber exatamente qual problema ou problemas que pretendemos solucionar, senão estaremos redesenhando o já desenhado sem acrescentar uma nova solução, uma nova atitude, um novo processo de produção.

Estaremos fazendo mais do mesmo.

Estamos apenas usando a palavra design como um adjetivo para vulgarizá-la e criar um falso e inadequado componente que só serve para encarecer o produto através de falsos valores, pois o verdadeiro design é aquele que valoriza o produto sem que isto o torne inacessível ou apenas disponível nas lojas de decoração da Vila Madalena ou Gabriel Monteiro da Silva e vendidas como peças assinadas, obras de arte ou peças de produção limitada.

Isto é design? Produtos populares não tem design? Foram produzidos como e porque? Nasceram? Brotaram? Por que então o design não é utilizada para valorizar produtos do uso diário e de baixo custo? Por que esses produtos merecem ter uma qualidade inferior tanto no desenho, na funcionalidade e produção, como nos materiais utilizados e nos acabamentos como se as necessidades rotineiras fossem menores e menos importantes?

Acho que a palavra design está fluída até na cabeça de quem faz design. Vamos usar com mais parcimônia a palavra design. Não existe objeto sem design. Não se extrai o design de um objeto. Design não é, e nem deve ser argumento de venda como vemos hoje em diversas campanhas publicitárias: carro-design, geladeiradesign, hotel-design, fashion-design e agora até sobrancelhas design!

Argumento de venda é o benefício que o produto oferece.

Design disso, daquilo, carro design, desodorante design, hair design, sound design, web design, game design, e muitas outras aplicações de uma palavra que parece “agregar valores” simplesmente por estar presente nas comunicações comerciais.

Design virou adjetivo. Qualifica e reposiciona toda e qualquer espécie de produto e serviço. Basta ser mencionado na sua comunicação para tornar sofisticado, diferenciado e exclusivo qualquer produto. Design é inevitável. Pode seu bom ou mau, profissional ou amador, adequado ou inadequado. O design existe. Não se extrai o design de um produto. Lojas de design que vendem de tudo. De móveis a sapatos, de roupas a objetos de decoração.

Está difícil distinguir decoração de design, moda de design, artesanato de design. Quando uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa? O que é design? Ou melhor o que é um bom design? Será bom design aqueles produtos que encontramos em lojas de renome ou outras nas mãos das pessoas badaladas que pagam caro por produtos assinados ou pelas marcas?

Ou melhor, pagam caro pelas assinaturas nos produtos que não se sabe por quanto tempo serão considerados “design”. Onda é passageiro, moda dura um pouco mais e tendência é para sempre.

Design é tendência: Um caminho que deve ser percorrido em longo prazo. Estratégico para as empresas e gerando conforto, qualidade de vida e economia para o consumidor, o que se valoriza no que estamos vendo hoje, é o status e preço gerado pela autoria ou endereço do autor.

Da forma que vemos hoje, design é moda. É perecível e frágil. Só isso é design? E os pequenos produtos do nosso dia-a-dia? O saleiro que está na mesa dos restaurantes? O sapato das lojas Mundial? A Roupa das lojas Marisa? Os armários das casa Bahia? Não foram projetados por designers? Claro que foram. E nestes pequenos e anônimos produtos que estão embutidos os verdadeiros e legítimos projetos de design.

Um design anônimo, sem valor agregado, mas com produções e distribuição infinitamente superiores aos badalados, porém pesquisados, estudados, testados até serem aceitos por diversas camadas de consumidores. É o design 1,99 que precisa ser visto e valorizado. O design anônimo. Aquele que nasceu de verdadeiras necessidades dos consumidores e dos recursos de seus fabricantes.

As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade do autor

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