Há pouco tempo me deparei com um texto no qual o autor se comprometia em questionar o uso da palavra ‘design’ de forma demasiada ou descontextualizada — às vezes até apelativa. Toda crítica construtiva é válida, pois se há dúvida ou descontentamento, é importante que seja discutido e avaliado. Por isso, decidi escrever sobre este tema em particular, a fim de desmistificar algumas percepções equivocadas sobre o design.
Para os iniciantes da área, principalmente nas vertentes mais comuns (gráfico, produto, moda, animação e interiores), pode-se haver realmente uma certa confusão do que se trata o design, uma vez que estes se encontram em processo de imersão. Ao mergulhar mais fundo, alguns limites são ultrapassados, e percebe-se que design tem mais a ver com projetar e gerir, do que apenas desenhar ou embelezar.
O fato é que para se alcançar um resultado interessante, coerente e — subjetivamente—bonito, é preciso haver muito estudo, um propósito bem fundamentado e técnicas pertinentes para o processo de desenvolvimento. Design, portanto, é esse processo. É o desenho da estrutura, do caminho, do problema em direção à solução.
Como resultado, pode-se ter uma ilustração, um artefato, um sistema, um serviço, e tantas outras possibilidades. Desenhar recebe uma conotação diferente.
Novos — ou ainda antigos — problemas sociais e organizacionais
Desde a revolução industrial, a partir do século XVIII, o design sofreu grandes transformações, e isso se deu em razão do comportamento da sociedade, da economia, da tecnologia e do modo de fazer política.
Se antes a única preocupação era vender e lucrar, hoje percebe-se que este processo tradicional pode ser danoso, ao se produzir lixo em excesso, devastar o meio ambiente e esquecer das reais necessidades do público .
As pessoas ganharam mais voz e, principalmente, mais conhecimento sobre o que visam adquirir — elas estão mais atentas ao que as empresas fazem, como a preocupação com as causas ambientais e sociais.
Problemas ainda latentes na sociedade e muitas vezes negligenciados, como pessoas em situação de vulnerabilidade, edução precária – ou a falta dela –, pessoas com necessidades especiais, dentre outros, são desafios que o design transformou em oportunidades de trabalho, a fim de construir um futuro menos desigual e mais inclusivo.
Por isso, mesmo que cause estranhamento em um primeiro momento, as novas vertentes do design buscam sair dos métodos tradicionais e partir para a construção de soluções inteligentes e acessíveis, engajadas em trazem o ser humano e suas necessidades como o foco principal. Vale um lembrete de Jared M. Spool, em tradução livre:
“Grandes designers não se apaixonam por suas soluções. Grandes designers se apaixonam pelos problemas dos usuários”
O que ele quis dizer, em outras palavras, é: não se prenda ao visual, ao resultado; valorize as necessidades latentes do seu público/usuário/sociedade, a fim de criar caminhos eficientes e inteligentes. É bastante comum o designer já tentar buscar um resultado imediato, o que o faz impor uma ideia e não resolver um problema realmente. Os achados durante o processo de pesquisa e desenvolvimento são valiosos.
Desenhando futuros
Agora, acredito que não seja tão difícil entender o surgimento de termos como Design Thinking, Design for chance, Design centrado no humano, Design participativo, Crowd Design, Design de serviços e tantos outros. Tudo isso surgiu a partir de iniciativas que transformaram uma realidade — e existem hoje diversos kits de ferramentas para auxiliar nesse processo.
Para lidar com enfrentamentos tão peculiares e diferentes do que costumamos conviver, é imprescindível para o designer trabalhar a empatia, a colaboração, o cuidado com a experiência e o compartilhamento das informações. Assim, escutar e observar são atividades cruciais para a percepção dessas necessidades.
Lembre-se: você não tem as respostas para todos os problemas. Dê atenção aos detalhes à sua volta. O propósito do novo design é que sejamos mediadores das soluções, de modo que as pessoas participem do processo de criação.
Abaixo, listo algumas referências básicas para você se aprofundar mais sobre esse assunto:
https://www.interaction-design.org/literature
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