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Design Inclusivo vai além da arquitetura e acessibilidade

Ultimamente muito se fala em Design Inclusivo ou Design Universal, mas quase sempre o foco é entendido erroneamente, pensa-se apenas no âmbito arquitetônico. Esquecemos-nos ou não conhecemos os benefícios gerados pelo Design Inclusivo aplicado ao design de produto e ao design gráfico.

Um dos objetivos primordiais do design é proporcionar qualidade de vida a todos, sem exceção. Entretanto, parece que essa qualidade de vida é apenas um direito dos usuários sem deficiência ou dos usuários jovens e saudáveis.

(Foto: Reprodução/Helen Hamlyn).

Design Inclusivo

O Design Inclusivo não é um novo gênero, nem uma especialização separada. É uma abordagem que garante que produtos e serviços projetados atendem às necessidades do público da forma mais amplo possível, independente da idade ou habilidade.

Duas fortes tendências têm impulsionado o crescimento do Design Inclusivo (também conhecido como Design for All e, como Desenho Universal nos EUA): o envelhecimento da população e o crescente movimento de integração de pessoas com deficiência na sociedade.

Veja alguns mandamentos do Design Inclusivo a serem seguidos:

• Uso equitativo: O design é útil e comercializável para pessoas com habilidades diversas;

• Flexibilidade no uso: O design acomoda uma ampla variedade de preferências e habilidades individuais;

• Simples e intuitivo: O uso do design é fácil de compreender, independentemente da experiência do usuário, conhecimentos, habilidades de linguagem ou nível de concentração;

• Informação perceptível: o design comunica eficazmente a informação necessária ao usuário, independentemente de sua capacidade sensorial do usuário;

• Mínimo esforço físico: O design pode ser utilizado de forma eficiente e confortável e com um mínimo de fadiga

Uma regra de ouro é ter sempre em mente que a terceira idade e as pessoas com algum tipo de restrição sempre serão potenciais usuários e como tais devem ser consideradas. Se aplicando princípios de Design Inclusivo, estarão sempre presentes na sociedade e passam a exercer o direito básico de qualquer cidadão de ir e vir, independente de seu estado físico.

Porém, erroneamente, ainda se acredita que Design Inclusivo é apenas uma adaptação rápida do entorno como a construção de uma rampa ou a instalação de elevadores para deficientes. Também, surpreendentemente, muitos designers não têm esse conhecimento ou consciência e ainda acreditam que o bom design é apenas aquele que está nas feiras internacionais de moveis e decoração.

Essa consciência de mudança para uma sociedade inclusiva deve partir de todos os segmentos da sociedade, principalmente do Estado que deve garantir o direito básico de qualquer cidadão de ir e vir, independente de seu estado físico.

Para isso é necessário:

1- Legislação

2- Standard (Normatizações)

3- Inspeções/auto-regulação

4- Mais informações aos fabricantes, empresários (benefícios fiscais, investimento para quem projeta Design Inclusivo)

5- Ensino/Formação em Design Inclusivo em várias áreas de conhecimento (ergonomia, design, engenharia, arquitetura, psicologia, medicina)

6- Prêmios e certificações/selos de “Design Inclusivo” em produtos e/ou serviços, sistemas e construções

7 Mais informação ao consumidor (Design Inclusivo é um direito do consumidor)

(Foto: Reprodução/Helen Hamlyn).

Benefícios do Design Inclusivo

Democratiza o design permitindo que uma maior variedade de pessoas possa acessar e utilizar o produto diretamente (ou com qualquer dispositivo de apoio); permite que o produto seja utilizado em uma variedade maior de ambientes ou situações. O Design Inclusivo é flexível o suficiente para atender às necessidades dos usuários iniciantes e avançados e também é amigável para os usuários em geral, é mais fácil de entender e usar.

O beneficio é individual, mas também se estende ao seu contexto imediato e à sociedade em si. O Design Inclusivo permite uma sociedade mais justa, com mais oportunidades econômicas para todos, gera independência física e emocional aumentando a auto-estima e a dignidade das pessoas.

O design é assim, uma questão social, já que permite melhorar a sociedade trazendo mais qualidade de vida ao proporcionar produtos, serviços e sistemas idôneos que contribuem para uma sociedade mais sustentável. O Design Inclusivo é socialmente desejável e necessário, mas também é uma oportunidade comercial que não pode ser desprezada.

Produtos e sistemas com Design Inclusivo são mais competitivos, gerando novas oportunidades de mercado e diferenciação quanto aos produtos similares tradicionais. Futuros mercados de consumo serão cada vez mais diversificados em termos de idade e capacidade física.

Agora o foco está em integrar as melhores soluções para todos, apoiado por novas técnicas de pesquisa de design para tornar o processo de desenvolvimento mais centrado no usuário.

Com esse foco é possível criar inovações em sistemas e serviços cotidianos gerando novas dinâmicas urbanas, sociais e econômicas que podem servir de modelos e ser aplicáveis a outros contextos, rompendo assim os paradigmas tradicionais e gerando uma sociedade sustentável inovadora.

O presente do Design Inclusivo

Vivemos em um país com aproximadamente 24 milhões de pessoas com deficiência. Para cada pessoa com deficiência se afirma que há outras 2 a 3 pessoas afetadas diretamente. No âmbito familiar, então teríamos aproximadamente de 48 a 72 milhões de pessoas afetadas por essa situação. Infelizmente, estar “eficiente” hoje, não nos livra da possibilidade de sermos deficientes no dia de amanhã, sendo que a maior causa de deficiência são acidentes de trabalho.

Por outro lado os idosos são hoje 14,5 milhões de pessoas, 8,6% da população total do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base no Censo 2000 e, apesar de o Brasil ser um país jovem, é uma população crescente com uma longevidade cada vez maior. Entretanto, este mercado no Brasil é esquecido, ignorado.

Os fornecedores e produtos e serviços e a publicidade precisam deixar de lado o preconceito e considerar também as pessoas com deficiência e os idosos; afinal essas pessoas também têm poder de consumo e não é justo priorizar eternamente a beleza e a juventude.

Constatamos que uma grande proporção de produtos, serviços e sistemas em nosso cotidiano nunca foi pensada para pessoas com algum tipo de deficiência ou de idade avançada.

Proponho o seguinte exercício, ao começar o dia e durante uma semana, tome um pequeno caderno e anote tudo que não funciona direito e como poderia ser otimizado e você se surpreenderá com a quantidade de produtos, sistemas e serviços falhos.

Em países como o Brasil essa situação é pior ainda, vivemos em um entorno urbano material caótico e assustador no qual ser idoso ou deficiente é terrível.

O contexto urbano não ajuda; ao contrário, colabora para acidentes. Um entorno urbano inclusivo e bem projetado permitiria ao Estado economizar muito dinheiro no campo da Saúde reduzindo os acidentes urbanos derivados de um entorno material deficiente.

 

(Foto: Reprodução/Helen Hamlyn).

O futuro do Design Inclusivo

O Design Inclusivo hoje está mais relacionado às ONGs, causas pessoais ou totalmente no campo da medicina, da reabilitação e da deficiência. Essas iniciativas são validas, mas devem entrar no âmbito industrial — empresarial e permear nosso cotidiano.

As empresas devem perceber que o segmento do Design Inclusivo é um mercado extenso e crescente que deve ser explorado, deixou de ser um nicho reduzido, sem importância.

Há inúmeros fatores que nos levam por esse caminho. Temos, por exemplo, o envelhecimento mundial da população e, não podemos ter um desenvolvimento sustentável se deixamos de fora importantes segmentos da sociedade como os idosos e os deficientes.

Finalmente, bom design é para todos!

Referências:

Estudo de casos

Helen Hamlyn Center — Design Research Center

Fatores humanos no design

Artigo escrito por Marcio Dupont, designer de produtos, especializado em design e inovações para pessoas com deficiência. Entre em contato para projetos e consultorias.

Caso você tenha interessa, pode também participar de um grupo no Facebook que aborda o tema.

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