Recentemente participei de uma discussão em uma universidade, onde o palestrante, que também era designer, afirmava, corretamente, que o design deve ser apresentado como “gerador de negócios” desde as primeiras aulas, deixando de lado a otimização dos aspectos formais e funcionais como função única do design. A partir desse ponto inicial, me estendo no artigo abaixo com a minha perspectiva profissional sobre o assunto.
A Base, o topo da pirâmide e o design
Diferente de tempos atrás, é interessante como a ideia do design ser negócio pode ser agora dirigida a estudantes da base da pirâmide, de uma classe social menos privilegiada e que não teriam os recursos para pagar um Mackenzie, Faap, IED, FGV. Conforme a discussão avançava, era mais claro que esse estudante-futuro designer da base da pirâmide, representa muito mais o futuro do Brasil que o topo da pirâmide de uma classe mais elitista. Os alunos do topo da pirâmide já vem de um ambiente social e econômico forte, onde a ideia de negócios faz parte do café da manhã, com empresas familiares de grande porte e em um ambiente privilegiado financeiramente e com acesso a outros recursos e experiências internacionais que o aluno da base da pirâmide dificilmente terá.
Sendo assim, ficou claro que o aluno da base que vai estudar design tem mais prioridade e urgência em aprender e praticar o design como business, ou pelo menos, ter uma “mente de negócios” quando falar com o futuro cliente.
Negócios para todos com bom design
A beleza do design é a sua flexibilidade. Ele pode ser apresentado desde várias perspectivas como do consumidor, manufatura, inovação e cliente-investidor. O importante para o aluno é saber e detectar a linguagem certa para o ambiente certo. Em um ambiente de negócios, a linguagem deve ser de negócios: ROI, mercado e não priorizando tanto os aspectos formais e funcionais, que devem estar presentes e devem ser esclarecidos também. O design com seus elementos estéticos sempre corre o risco de ser apresentado de maneira abstrata a um potencial cliente, diminuindo as chances de fechar negócio, sendo assim esta lista abaixo do Sebrae com os benefícios do design nas empresas pode ser um bom orientador para a conversa com o cliente:
- Aperfeiçoa e reduz custos de produção;
- Amplia o portfólio da empresa ao criar novos produtos;
- Aumenta a competitividade das empresas;
- Agrega valor às marcas de produtos e serviços;
- Oportunidades para conquistar consumidores;
- Empresa adota uma forma de pensar e encarar problemas focada na empatia, colaboração e experimentação (Design Thinking)
- Utilização de recicláveis e o respeito ao meio ambiente (Design Sustentável)
Design para todos com bom negócio
O aluno da base da pirâmide deve ser inovador, empreendedor e entender o design para gerar novas oportunidades para ele e para a sua sociedade, e não apenas para ser o designer da base-funcionário servindo ao designer-chefe do topo da pirâmide. Essa perspectiva de um designer da base ser empreendedor é mais que necessária e urgente para a construção de um Brasil mais inclusivo com mais negócios e bom design para todos, já que o designer do topo da pirâmide apenas seguirá algo que é mais natural e mais “fácil” para ele.
É preciso que as universidades de design e professores repensem urgentemente o seu papel e tenham uma atitude mais inovadora e empreendedora com os alunos.
O design como ferramenta para a mudança
Na minha prática profissional, sempre percebi o design como uma ferramenta para a mudança. Ele também traz valores intangíveis como qualidade de vida, dignidade, independência, conhecimento e consciência. Ele permite a “quebra de paradigmas”, levando as pessoas a adoção de um estilo de vida mais saudável e em harmonia com o meio ambiente. Como exemplo, temos o design sustentável, que conscientiza a pessoa sobre o seu estilo de vida e meio ambiente, gera uma nova atitude e percepção e provoca uma mudança de comportamentos de consumo e hábitos.
Sempre lembre que valores intangíveis você está criando ou quer criar no seu projeto!
Design no Século 21
O aluno também deve perceber que o design hoje em dia está inserido em um contexto dinâmico e global, e o designer deve ser designer e sempre algo mais.
Um projeto bom de design é para o mundo e não apenas para o Estado de São Paulo ou o Brasil. Gosto da imagem abaixo que resume de maneira excelente o perfil do designer no século 21, o que ele dever ser e saber para ser um profissional mais completo e inovador:
Para finalizar, este artigo é para o estudante de design, mas ainda mais para os professores e instituições que independentemente do porte e da classe social que atendem, tem a obrigação de formar designers empreendedores. O Futuro do Brasil e dos BRICS é a base da pirâmide, eles são a maioria que irão moldar o futuro com novos produtos, serviços.
As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade do autor
Marcio Dupont é designer , consultor de inovação e trabalha na geração de oportunidades de negócios e inovação para base da pirâmide, idosos, pessoas com deficiência. Conheça o portal de design e inovação DECE