O projeto gráfico de um livro, livreto, revista ou qualquer outro material é uma extensão da tonalidade de voz, discurso e conteúdo textual e imagético que uma publicação pretende abordar.
É comum quando analisamos livros clássicos notarmos um padrão de diagramação, impressão dos tipos e principalmente o acabamento, esse último por sua vez, vai desde o processo de encadernação que em sua maioria consistia em um processo longo de costura e arremete de linhas.
Para olhos leigos, um projeto gráfico bem elaborado consiste no simples fato de estar visualmente bonito ou consistente a ponto de uma relação entre a imagem e o texto ser de fácil captação, mas a verdade é completamente distante disso. No ato de projetor o designer precisa compreender qual o objetivo final do material que está na sua frente, e principalmente, a hierarquia de informação da página.
É muito comum jornais e revistas que perdem “a mão” no projeto gráfico, optando muitas vezes por páginas densas, com extensos blocos de texto, e minúsculas zonas de respiro. Decisões como essas dificultam a vida do leitor. Isso porque, sem área de respiro, a leitura torna-se cansativa e maçante, ou seja, não existe fluidez visual ou um incentivo para o olho percorrer a página e assimilar as informações.
Um projeto gráfico bem elaborado tem o poder de despertar o interesse de novos leitores, além de muitas vezes reposicionar uma marca ou produto no mercado. Um trabalho selecionado para a Bienal de Design Gráfico desse ano, por exemplo, exemplificou perfeitamente esse processo.
A revista Galileu da editora Globo introduziu em novembro do ano passado um novo projeto gráfico para sua revista. Com cores vivas e um esquema de grid de 95 x 125 unidades para páginas simples e 190×125 verticais para páginas duplas, um complexo projeto cartográfico e uma nova estrutura. As reformulações foram realizadas para deixar o produto mais próximo do leitor e facilitar a leitura, e principalmente, reposicionar a revista, como explica Rafael Quick, editor executivo de arte da marca em uma palestra do IED São Paulo.
Vale lembrar que o projeto ganhou prata no Best of News Design concurso criado pela Society for News Design.
Um projeto gráfico bem elaborado é estritamente importante para uma publicação alcançar todo seu potencial diante do leitor. Para auxiliar na concepção de um projeto gráfico visualmente consistente e funcional separei algumas dicas.
1) Entenda a necessidade e o público
É importante ter em mãos antes de iniciar qualquer rascunho as informações pertinentes do negócio, com isso estou falando de público-alvo, interesses primários e secundários, estudo de mercado, tom de voz que a publicação pretende adotar. Parece estranho um designer ter acesso a essas informações, mas a verdade é que é essencial que o projeto seja pautado sobre dados, e principalmente uma experiência prévia, pois o leitor pode ser visual, auditivo ou sinestésico.
As pesquisas definiram como o público consome o produto e os interesses primários e secundários que ele mais explora no material. Entender o processo e os desejos é importantíssimo. Para deixar mais claro, vamos imaginar um leitor mais visual, ele não gosta de blocos extensos de textos, seu interesse está no dinamismo da página, na beleza das imagem e na hierarquia de informação de fácil captação, sendo assim, a publicação ideal teria um projeto gráfico clean, com grandes áreas de respiro, e muitos infográficos, basicamente um projeto gráfico como o da revista Galileu.
A página abaixo usa o branco a seu favor, as áreas sem conteúdo deixam um aspecto clean e possibilitam que o olhar do leitor tenha uma área de descanso, e principalmente, favorece a fluidez visual.
2) Tom de voz
Em qualquer projeto é imprescindível que exista um coerência imagética e visual, e em um projeto gráfico não é diferente. O tom de voz empregado nas reportagens é como o “caminho das pedras” para o designer, ou seja, as diretrizes que nortearam o visual, cada infográfico, ilustração, ou mesmo, letra capitular inserida deve dialogar diretamente com o conteúdo proposto.
The outside edition foi um projeto gráfico desenvolvido em tempo real para a revista Go Outside. Na ocasião, designers e jornalistas embarcaram em uma viagem pelo mundo e capturaram a essência de várias cidades em tempo real redigindo, ilustrando e diagramando as matérias com os materiais que achassem interessante, e olha que a lista inclui papelão, fotos polaroid, areia e muito mais.
“Esse projeto nos levou ao nosso limite. Ou, ao menos, até bem perto dele. A missão: trazer todo peso do nome da revista Go Outside […] Cada matéria nasceu e ganhou vida no momento em que tudo acontecia – no deserto, na estrada, na floresta, debaixo de chuva ou abaixo de zero”, divulgou no Behance.
A relação entre o conteúdo das matérias, o tom de voz do impresso, o projeto gráfico e os elementos que compõe o mesmo são evidentes em cada toque, tudo aparenta estar em perfeita sintonia, se o leitor abrir em uma página aleatória e logo após na capa conseguirá perceber sinergia dos elementos.
Podemos concluir então que, quando estamos falando de diagramação, a palavra da vez sempre deve ser sinergia, ou seja, a maneira como os elementos interagem entre si para potencializar o resultado final.
Curtiu essas dicas? Semana que vem tem a segunda parte do artigo – Grids no projeto gráfico. Até lá!
As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade do autor