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As diretrizes de inovação do MIT Design Lab

Recentemente, assisti à apresentação da diretora do MIT Design Lab (MDL), arquiteta Yihyun Lim, no novo espaço de inovação do Bradesco em São Paulo, o InovaBra Habitat, onde ela compartilhou as diretrizes que norteiam o processo de inovação e design do famoso MIT Design Lab e alguns projetos como exemplos específicos.

Diretora do MIT Design Lab Yihyun Lim

Ela começou expondo as sete diretrizes que o MDL usa para todo projeto, ainda explicou que a maioria dos projetos era corporativo e patrocinado, mas com espaço para projetos mais experimentais.

Para ela, uma das razões para o sucesso do MDL é a sua diversidade cultural, estudantes e professores vêm de todas as partes do mundo e essa riqueza permite alto grau de inovação e possibilidades criativas diversas.

As diretrizes usadas em cada projeto são:

  • Faça o problema, não resolva ele (Make the problem to solve)

 

 

 

 

Apresentação no InovaBra – São Paulo 2018

Quando chegar o problema, não resolva ele imediatamente, mas “desconstrua” o problema, entenda ele por todas as suas perspectivas. Refaça o problema, o seu significado, entenda a sua raíz, os contextos, motivações, interações.

A partir disso, comece a resolver o novo problema. Para ela, esse ponto era o mais importante e talvez o mais difícil, já que há a tendência a ir diretamente para o problema apontado inicialmente e não parar para pensar que ele pode estar errado.

  • Entenda os valores humanos

    Slide da apresentação

 Uma das partes mais interessantes da apresentação foi esta perspectiva, já que ela se baseia em dois pilares:

1) entender os valores humanos existentes dentro de um projeto;
2) criar novos valores que se materializam em produtos, serviços inovadores, experimentais.

Por valores humanos existentes estava o exemplo de segurança, saúde em um ambiente industrial. O que significa segurança e saúde para um operário? Como transformar esses valores em um produto ou serviço? Para isso, foi apresentado um projeto de “wearables” e IOT incorporado à roupa e a rotina de trabalho do operário, onde havia alertas, mensagens sobre a sua saúde, o ambiente externo e procedimentos de segurança que estavam sendo cumpridos ou não ao largo do dia.

Como novos valores, um exemplo disso foi o projeto em torno ao “fumar”, quais são os valores sociais, coletivos e individuais ao redor do ato de fumar?

A pesquisa deles demonstrou que um valor coletivo do fumar é a interação com outras pessoas, como transformar esse valor coletivo (interação – socialização) em um produto material? Para isso eles fizeram uma caneca interativa, onde a pessoa levantava a caneca e gravava uma mensagem que podia ser ouvida posteriormente por outra pessoa recriando a socialização do fumar de outra maneira.

Interessante perspectiva de criar novos valores à partir de ações e hábitos cotidianos comuns e transformar esse valores em produtos e serviços inovadores e experimentais.

Assim qualquer habito comum como beber agua, caminhar, usar redes sociais pode se transformar em um valor que anteriormente não era expressado e ser um gatilho para experimentação.

Para isso eles criam um “mapa de valores”, sejam individuais, coletivos, sociais etc. ao redor de uma ação, habito e a partir disso, começam a projetar produtos e serviços que materializam esse valor especifico, criando assim, algo que não existia anteriormente. Para mim, como designer foi um dos pontos fortes da apresentação.

  • Transformar valores intangíveis em produtos e serviços (Make values tangible)

Um caso apresentado foi: “Como fazer uma apólice de seguros tangível?”

Como criar valor e materializar isso para o usuário? Digamos como no exemplo deles, “Valores de segurança e monitoramento domestico”. Para isso, eles criaram um totem assistente – mordomo que monitora o cotidiano do usuário e especialmente a casa, avisando se há perigo de incêndio, estranhos na casa, monitorando chaves e outros pertences pessoais na casa; trazendo mais valor e tangibilidade a algo que era invisível e “sem valor ou ação imediata” na vida da pessoa. Para o usuário da apólice, agora era apresentado uma nova percepção, como uma empresa talvez mais proativa, humana e com empatia, já que agora ele paga por serviços futuros que pode vir a usar o não, mas já há no presente um valor, ação e retorno imediato dessa contratação; ele já percebe um beneficio imediato positivo, não há mais aquela percepção de que a apólice só será para algo negativo na vida futura da pessoa. Transformou-se uma percepção negativa do negocio em algo atrativo e positivo, possivelmente mais pessoas contratarão a apólice pelo serviço presente de assistência que pelo serviço futuro.

  • Projete relações pessoais, não transações (Design relationships, not transactions)

 O design é de pessoas para pessoas, sendo as relações pessoais e interações um dos aspectos mais importantes para o fracasso ou sucesso de um produto ou serviço. Como caso, eles apresentaram a proposta de “Como fazer um hotel mais sociável?” Em parceria com uma cadeia americana de hotéis, o MDL começou a trabalhar a ideia de transformar o hotel em um lugar de interação entre os hospedes que tivessem interesses comuns, como perfil profissional, cidade de nascimento, hobbies. Essa identificação era possível através de um match com base nas informações preenchidas na hora da reserva. A interação entre hospedes acontecia com uma espécie de cubo que sinalizava uma cor verde quando havia algo em comum, para os dois hospedes que estavam no bar. Outra ideia interessante, era fazer objetos do hotel interativos, como uma lâmpada de mesa, o que eles chamavam de “objeto engajado” e “IOT emocional”. A lâmpada de mesa ficava ao lado de um sofá, e por meio de leds instalados na sua tela ela interagia diretamente com o usuário, pelo seu nome, e convidando ele a seu café favorito no bar, pago pelo hotel.

  • Incentive a diversidade e as diferenças no Design (Bring differences to Design)

O co-fundador do MIT Media Lab Nicolas Negroponte, já afirmava décadas atrás, que só as diferenças e a diversidade trazem novas ideias e criatividade aos projetos. Como afirmava Lim na sua apresentação, um dos pontos fortes e justificativa do sucesso do MDL era a sua diversidade no corpo de estudantes e professores, que permitia sempre, perspectivas diferentes, frescas e inovadores em qualquer projeto abordado.

Mas não apenas no aspecto pessoal, mas também, no sentido de trazer outras áreas para o design e interagir com a Biologia, Robótica, Computação, criando novas possibilidades de design sustentável, design generativo, produtos e serviços que materializam essa interação aplicada entre design e outras áreas do conhecimento humano.

  • Seja o condutor (Mission – value driven, not market driven)

Ela não especificou muito neste tópico, mas mencionou que o designer com a sua experiência e visão global deve ser o condutor do projeto, se aliando com outras profissões e conhecimentos, mas sempre sendo o condutor.

Uma característica que ainda não acontece em muitas empresas, onde o designer não tem poder de voto e decisão em uma mesa diretiva, apenas na sua área, e ainda assim a empresa quer ser inovadora.

Design não é mais um produto físico, é um modelo de negócios, é um ecossistema de produtos, serviços e experiências e só o designer tem essa percepção e capacidade de condução. Veja como a Apple e Google estão constantemente evoluindo o seu ecossistema com novos produtos, serviços e experiências. Nos Estados Unidos, pouco a pouco os designers estão sentando nas mesas diretivas de grandes empresas.

  • Esteja atento a obsessão de aperfeiçoar tudo – abrace a ineficiência

Em um mundo que esta ficando altamente tecnológico e com todo tipo de aplicativo, há uma tendência a uma melhora continua em tudo, aqui ela menciona algo bem interessante, “Pare, o ser humano é imperfeito e ineficiente! Foque em valores, experiências e emoções e não em melhoria tecnológica pura”.

O bom design está centrado no ser humano e a tecnologia é apenas uma ferramenta, tecnologia não é “fazer design”  e nem é design, é um apoio ao projeto.

Na minha opinião as diretrizes mais importantes seriam:

  • Criação de valor pelo design.
  • Processo – projeto focado em valor (value driven) e não em mercado (market driven).
  • Centrado no ser humano.

Ainda que pareça óbvio, na atual onda tecnológica que vivemos, muitos designers esquecem que o design tem dois objetivos fundamentais e atemporais: inovação e o ser humano.

Enfim, foi uma apresentação muito rica e interessante, em conhecer quais diretrizes o MDL usa nos seus processos de inovação, experimentação, e que podem ser incorporados nos nossos processos criativos  que usamos cotidianamente.

Se pudesse resumir a apresentação dela:

“Através do design gere valores centrados no ser humano”.

Siga a Diretora do MIT Design Lab Yihyun Lim no LinkedIn:https://www.linkedin.com/in/yihyun-lim/

O MIT Design Lab em: https://design.mit.edu/

A palestra aconteceu no InovaBra Habitat

Artigo publicado originalmente no portal de Design LACOD – Latin Contemporary Design (Espanhol – Inglês disponível no portal)

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