Entrevistas

O design na revista Mundo Estranho

Revista passou por reformulações em 2015, mas já aponta para novidades no design e em plataformas

Nos últimos anos, o mercado de editoração digital e impressa passa por transformações intensas com a evolução da tecnologia. Mudanças nos hábitos de consumo de informação, aumento do acesso à internet no Brasil e, consequentemente, novos produtos digitais de conteúdo que convergem para o atual momento.

Em meio a esse cenário, grandes veículos de comunicação estão diante do desafio de continuar a publicação de seus conteúdos, passando por um período de transformações e investimentos no campo da comunicação e na economia brasileira.

Pensando como o design e a produção de conteúdo mudou, conversamos com o editor da Revista Mundo Estranho, Marcel Nadale, que nos contou sobre as transformações que a revista tem passado nos últimos anos, tanto no design, quanto na produção de conteúdo.

Marcel em um quadro recente na revista Mundo Estranho.

DCon: Quantos profissionais são da redação e quantos trabalham diretamente na área de design?
Cinco. Uma editora de arte, três designers e uma estagiária de arte.

DCon: Atualmente vivemos a transição do fim da adoção da internet e das tecnologias no cotidiano dos brasileiros. Como a Mundo Estranho fez e tem feito para se adequar a essa nova realidade de diversas plataformas para produção de conteúdo em meio a um cenário de redução de equipe e de custos?
A Abril passou por uma reestruturação que fundiu as equipes de impresso e online (algo que já devia ter acontecido há muito tempo). Com isso, basicamente, a solução é exatamente a que você imagina: todo mundo joga nas 11 posições – inclusive os designers.

Todo mundo produz conteúdo para o site, todo mundo apresenta lives no Facebook, todo mundo estrela séries de vídeos editados e produzidos para o YouTube. É cansativo, mas oferece um bom desafio para quem nunca tinha se metido nessa área. Evidentemente, isso implica simplificações no processo de produção do impresso.

DCon: O logotipo de uma empresa ou companhia de comunicação é algo que define o conceito e a mensagem a ser transmitido ao público, elemento essencial na identidade visual. Quem foi responsável pela criação do logotipo da revista e como surgiu a ideia do conceito?
O logotipo da ME é muito antigo, pré-toda a equipe atual, então não temos ninguém que poderia definir isso para você.

Antigo logotipo da revista Mundo Estranho (Foto: Reprodução).

Ele sofreu apenas algumas poucas atualizações, para melhorar sua legibilidade (que era muito ruim). A questão toda é que a ME foi uma revista que surgiu “no improviso” – ela não veio “de cima para baixo”, como um pedido da chefia para criar uma publicação para o nicho X.

Ela veio “debaixo pra cima”: surgiu como um especial da Superinteressante, e foi tão bem sucedida que organicamente atraiu seu público e acabou virando uma revista mensal. Então, nesse sentido, arrisco a dizer que o logo foi quase pensado no improviso (como o próprio nome da revista, aliás). Ninguém imaginava que eles iriam durar 16 anos – todo mundo achava que seria só um especial.

DCon: Notamos que em 2015 houve uma mudança no logotipo com a retirada da serifa, teve algum motivo específico?
A serifa atrapalhava a leitura. A nova versão também torna o logo mais simplificado – um objetivo geral em toda mudança no projeto gráfico que rolou nessa mesma época.

Imagem nas redes sociais perguntava aos leitores qual seria a melhor opção a ser adotada pela revista (Foto: Reprodução).

DCon: No cenário atual da profissão do designer (e também dos profissionais do jornalismo) no Brasil temos acompanhado uma convergência de funções que tem exigido novas competências dos profissionais da área. Como ocorre a divisão de funções? Os profissionais lidam com ferramentas distintas que vão do motion até a parte de diagramação?
Na atual equipe de arte cada um tem uma aptidão além da diagramação, todos sabem executar bem o trabalho de design, mas uma fotografa e gosta de dirigir videos, outros dois ilustram e fazem infográficos muitos bons, outra faz trabalhos manuais… essa variedade facilita na execução de todas as frentes (videos, livros, revista, site, ipad…)

DCon: Vivemos uma mudança intensa das gerações, consequentemente, uma mudança de público ocorreu de consumo da revista. Agora mais conectados, esta nova geração, em geral, busca por mais conteúdos instantâneos, diretos e visuais. Houve alguma adaptação em relação à disposição de conteúdo na versão impressa da revista (seja nos layouts, assim como na linguagem) para atender a esta nova demanda?
Não, porque quando foi lançada, a ME sempre esteve à frente dessa mudança. A gente já tinha uma linguagem muito focada no visual, com infográficos e amplas ilustrações, diferente de tudo que havia no mercado. E já trabalhávamos com múltiplas entradas de texto, conteúdo bem “picadinho”.

Imagem divulgada nas redes pela ME mostra a linguagem ao público mais jovem (Foto: Reprodução).

Era quase uma adaptação da linguagem da web, onde você pode ler algo agora, clicar num link, ir para outra coisa, ler aquilo e voltar no anterior, sem prejuízo na compreensão. Foi por isso, inclusive, que a revista deu tão certo com o público jovem. Hoje acho até que a gente ficou para trás – agora era a hora de estarmos à frente na linguagem online, com uma produção muito mais maciça de vídeo. Mas infelizmente ainda não há recursos para isso.

DCon: Quais são os recursos multimídia para que haja o contato com o público além das redes sociais e a versão impressa. Há uma versão digital interativa produzida?
Sim, a ME tem versões digitais desde a edição 111 (maio de 2011).

DCon: Como você enxerga o cenário de produção de conteúdo multiplataforma, mas principalmente na internet, para os próximos anos?
Da maneira mais óbvia possível: por mim, a ME já teria virado uma revista só de vídeos. É um formato que funciona bem em títulos internacionais – jornalismo de contexto, explicando conceitos do dia a dia de maneira rápida e didática, em poucos segundos. O outro ponto que me atrai são GIFográficos – infográficos em forma de GIF.

DCon: Há uma previsão de mudanças no projeto gráfico ou na identidade visual da revista para os próximos anos? Se sim, quais?
Eu gostaria muito. Mas o atual projeto ainda é novo, completou dois anos agora em maio. Deve levar um tempinho. Eu gostaria de “desengessar” um pouco o projeto, que estipulou muitas regras. Coisas mínimas, mas que ajudariam a dar mais variedade ao material de cada reportagem. E, principalmente, gostaria de uma remanejada no site, permitindo que pudéssemos explorar melhor nosso infográficos.

Hoje, o espaço para imagens não favorece a leitura detalhada. Mas isso vai ser ainda mais complexo de se realizar, já que os sites agora seguem um template para toda a Abril e qualquer pedido de mudança entra numa fila de espera da equipe de TI.

Agradecemos a disponibilidade de Marcel em conceder a entrevista ao Design Conceitual.

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